sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Terra dos homens

"A terra nos ensina mais sobre nós mesmos que todos os livros. Porque ela nos resiste. O homem se descobre ao medir-se com o obstáculo. Mas, para enfrentá-lo, ele precisa de uma ferramenta. Ele precisa de uma plaina, ou uma charrua. O lavrador, em sua labuta, arranca pouco a pouco alguns segredos à natureza, e a verdade que ele extrai é universal. Assim o avião, ferramenta das linhas aéreas, envolve o homem em todos os velhos problemas.
Tenho ainda, diante dos olhos, a imagem de minha primeira noite de vôo na Argentina - uma noite escura onde cintilavam isoladas, como estrelas, as raras luzes esparsas na planície.
Cada uma assinalava, naquele oceano de trevas, o milagre de uma consciência. Naquele lar, alguém lia, ou meditava, ou entregava-se a confidências. Naquele outro, talvez, alguém procurava sondar o espaço, consumia-se em cálculos a respeito da nebulosa de Andrômeda. Mais além, alguém amava. De longe em longe luziam esses fogos na campanha, pedindo sustento. Até os mais discretos: o do poeta, o do professor, o do carpinteiro. Mas entre essas estrelas vivas, quantas janelas fechadas, quantas estrelas extintas, quantos homens adormecidos...
É preciso fazer um esforço para se reunir. É preciso tentar se comunicar com alguns desses fogos que ardem, de longe em longe, na campanha."
Antoine de Saint-Exupéry, preâmbulo a 'Terre des hommes' , Ed. Gallimard(poche), Paris, 2000.

2 comentários:

  1. Caro Henrique,
    vim retribuir as visitas e gostei muito do que vi. Esta postagem do Terra dos homens é ótima. Estes exercícios diletantes que o blog nos estimula a fazer são motivos para revisitar leituras. Quando li, jovem, o Terra dos Homens (foi a Vânia que me indicou, quando namorávamos ainda) gostei muito. Sua postagem me estimulou a revisitá-lo.
    Parabéns pelo blog.
    Um fraterno abraço,
    Aníbal
    PS: Já respondi a sua pergunta, lá no Ler, escrever e contar.

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  2. Encantador! Mágico e estimulante...
    Nos faz sonhar e imaginar a humanidade mais humana! se assim pode se dizer.

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