sábado, 15 de março de 2008

Um poema de Marcos Moreira

Frans Masereel

18



Achando-se cada vez mais parecido com o pai
- no jeito de segurar o cigarro -
e com as tias
- na magreza -
ultrafundos seus olhos em tudo quanto mais
números de muitas passadas pelo centro da cidade
- como seu pai também médico -
mangas da camisa levantadas, lassa a gravata,
jogado o paletó ao ombro estende-se sua avidez,
sentindo-se inteiramente um descendente
- Não há uma só parte minha que
eu não saiba a quem pertenceu...
facúndia e umidade no deserto todavia,
alguém de cabelos platinos muitos e finos,
alguém continuamente inclinado
- pelo vento, pela terra, pela mulher -
a literatura veracidade América.


da plaquete "Cidade", ed. do autor, Rio, 1995






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