sábado, 11 de outubro de 2008

Mário de Andrade

DESCOBRIMENTO

Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De sopetão senti um friume por dentro.
Fiquei tremulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.

Não vê que me lembrei que lá no norte, meu Deus! muito longe de mim
Na escuridão ativa da noite que caiu
Um homem palido magro de cabelo escorrendo nos olhos,
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.

Êsse homem é brasileiro que nem eu.

Poesias Completas,4ª ed., Livraria Martins Editora, São Paulo, 1974
(respeitada a ortografia)

2 comentários:

  1. Caro Henrique,
    o Mário de Andrade expressa nesse poema sua linhagem de descobridor do Brasil "profundo". Nas suas viagens ampliou o que fez antes o Euclydes da Cunha, em outro contexto.
    E faz o leitor perceber as múltiplas dimensões da cultura brasileira.
    Bom ler o Mário.
    Abraço,
    Aníbal

    ResponderExcluir
  2. Gostei tanto de Mário de Andrade, quando o descobri!
    Fiz de Macunaíma um livro de culto da modernidade nas lestras portuguesas.
    O Brasil sempre à frente.

    ResponderExcluir