domingo, 25 de novembro de 2007

Emílio Moura

Ode ao primeiro poeta

- Comme le monde etáit jeune,
et que la mort etáit loin!
Georges Chennevière

Quando os homens desceram, um dia, dos montes e se detiveram, trêmulos, diante da planície imensa,
eu te vi erguendo a tua voz forte , límpida e viva.
Eras jovem e tinhas a alegria de quem está descobrindo o mundo.
Foi a tua palavra que modelou a primeira paisagem, deu ritmo aos ventos e imaginou a beleza ingênua dos primeiros e únicos símbolos que se perpetuaram.
Eras criatura e criador.
Estavas no gesto maravilhado que armava as primeiras tendas e na mão indecisa que traçava o desenho mágico dos caminhos que se improvisavam;
na imagem da vida em que se embebeu o primeiro surto livre do espírito;
estavas em ti mesmo e fora de ti,
quando os homens desceram, um dia, dos montes e se detiveram trêmulos,
diante da planície imensa...

Emílio Moura (1902/1971), Itinerário Poético, 2ª ed, Ed. UFMG, Belo Horizonte, 2002.

Nenhum comentário:

Postar um comentário