segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

O Sapo Verde

Aquele amarelo que apareceu um dia em nossa terra, ou por outra, aquele japonês, pois não sei se um chim daria o mesmo desfecho ao caso, dedicava-se a trabalhos de papel. Com incrível celeridade, dobrava, redobrava, multidobrava, premia aqui, puxava ali, e pronto: saía um pato, uma cesta, um avião, um urso, um homem sentado, uma mulher dançando, um navio, todas as coisas que há no mundo. Algumas dessas habilidades, ele as fazia às vezes em câmara lenta, para que a gente pudesse aprender. Mas era impossível guardar de memória o segredo do sapo verde, o maravilhoso sapo verde que comportava nada menos de sessenta e quatro dobras e que dava um salto quando lhe tocavam no lombo. Comprei um e fui para casa desmanchá-lo. Ficou-me nas mãos um quadrado de papel, inextricavelmente entrecruzado de vincos. Como não consegui fazer a operação contrária, isto é, rearmar o sapo, dali a dias encomendei outro.
- Hoje não poder - disse ele.
- Por quê?
- Por acabar papel verde.
- E por que não faz um sapo branco?...ou um sapo azul...ou um sapo vermelho...ou...
Mas o seu quase imperceptível sorriso de comiseração cortou-me a linda seqüência colorida.


Mário Quintana, Poesias, 2ª ed., Ed. Globo/MEC, Porto Alegre, 1972.

Um comentário:

  1. Belíssimo...
    E trouxe-me à memória outro sapo de que gosto sempre, o sapo jururú...
    Feliz Ano Novo, Henrique, para si e todos os seus.

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