domingo, 27 de abril de 2008

Jayro José Xavier

Notas para uma poética


Um poema se escreve sob granizo, ou nas frentes de inverno,
quando nos protegemos sob casamatas de zinco
Um poema se escreve quando a noite caiu e nem um fósforo
Um poema se escreve quando é preciso renascer das cinzas
- quando todos, para ganhar a vida, se tornaram
zelosos funcionários da Morte
Um poema não se escreve com a razão
Um poema se escreve com as mãos
como quem reza
como quem toma nas mãos um punhado de terra



O caracol


Mora entre as sombras eternas do fundo do pátio
e não canta. Antes inclina as antenas
e capta
a branda aspereza do dia

À noite sai,
tece uma seda líquida nos ladrilhos de cimento

Nem é um bicho, é
um silêncio
lentíssimo - mucosa e casa
movendo-se

Sábio molusco

No estio adverso encolhe-se feito feto
na valva em espiral. E adere
- úmido -
à dura pele da terra

(todo ele concha
e nostalgia
da unidade)

Nenhum comentário:

Postar um comentário