Notas para uma poética
Um poema se escreve sob granizo, ou nas frentes de inverno,
quando nos protegemos sob casamatas de zinco
Um poema se escreve quando a noite caiu e nem um fósforo
Um poema se escreve quando é preciso renascer das cinzas
- quando todos, para ganhar a vida, se tornaram
zelosos funcionários da Morte
Um poema não se escreve com a razão
Um poema se escreve com as mãos
como quem reza
como quem toma nas mãos um punhado de terra
O caracol
Mora entre as sombras eternas do fundo do pátio
e não canta. Antes inclina as antenas
e capta
a branda aspereza do dia
À noite sai,
tece uma seda líquida nos ladrilhos de cimento
Nem é um bicho, é
um silêncio
lentíssimo - mucosa e casa
movendo-se
Sábio molusco
No estio adverso encolhe-se feito feto
na valva em espiral. E adere
- úmido -
à dura pele da terra
(todo ele concha
e nostalgia
da unidade)
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