sábado, 24 de maio de 2008

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)

TORSO

Torcendo o torso virava o volante da escavadora
Ao cair da tarde num Setembro do século XX
Na estrada que vai de Patras para Atenas

Combatia no poente sua beleza helenística
As massas musculares inchadas pelo esforço
Construíam o tumulto de clarão e sombra
Que dobra os corpos dos deuses já perdidos
Dos frisos do Pérgamo

Pois também no poente onde eu habito
Os deuses são vencidos



MEIO-DIA


Meio-dia. Um canto da praia sem ninguém.
O sol no alto, fundo, enorme, aberto,
Tornou o céu de todo o deus deserto.
A luz cai implacável como um castigo.
Não há fantasmas nem almas,
E o mar imenso solitário e antigo,
Parece bater palmas.


Poemas Escolhidos, Seleção de Vilma Arêas, Companhia das Letras, São Paulo, 2004


Ps. Transcrevi o poema tal e qual se encontra no citado livro. Entretanto, creio que uma vírgula foi omitida no verso "E o mar imenso solitário e antigo,"; tudo me leva a crer que entre imenso e solitário deve existir a vírgula.
Favor me corrigirem.

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